| Fonte: Izabelly Mendes. |
Nos últimos anos, a atenção humana passou a ser considerada um dos recursos mais valiosos da sociedade contemporânea. Esse fenômeno é conhecido como “economia da atenção”, conceito que descreve o modo como plataformas digitais, marcas e criadores de conteúdo competem pela capacidade limitada das pessoas de se concentrarem em algo por alguns segundos. Vivemos em um ambiente saturado de estímulos, no qual a disputa não é apenas pelo consumo de produtos, mas pelo tempo, pelo olhar e pela memória do usuário. Essa transformação tem impacto direto no comportamento do consumidor, que se tornou mais seletivo, impaciente e, muitas vezes, impulsivo.
No centro desse processo está a mudança radical da forma como consumimos informação. Em décadas passadas, a jornada de compra era relativamente linear: o consumidor identificava uma necessidade, buscava referências em revistas, televisão ou boca a boca, avaliava opções e tomava uma decisão. Hoje, essa jornada é fragmentada em múltiplos pontos de contato, espalhados em diferentes plataformas. Um simples vídeo de quinze segundos no TikTok, um anúncio no feed do Instagram ou uma recomendação personalizada em um e-commerce pode disparar o gatilho de compra instantaneamente, muitas vezes sem que o consumidor perceba a lógica por trás de sua decisão.
A competição pela atenção levou as empresas a investirem em estratégias cada vez mais sofisticadas, baseadas em algoritmos que aprendem com o comportamento dos usuários. Cada curtida, clique ou tempo de permanência gera dados que retroalimentam sistemas de recomendação, tornando o conteúdo ainda mais direcionado e, portanto, mais difícil de ignorar. Nesse contexto, a atenção se transforma em moeda de troca: quanto mais tempo o consumidor dedica a uma marca, maior a chance de essa marca converter engajamento em vendas, fidelização e até influência cultural.
No entanto, essa lógica tem efeitos profundos no comportamento e na mente do consumidor. A abundância de opções e estímulos cria um ambiente de sobrecarga cognitiva, no qual a paciência diminui e a exigência aumenta. As pessoas já não toleram conteúdos genéricos ou longos demais; esperam mensagens rápidas, visuais atrativos e, acima de tudo, relevância. Além disso, surge o fenômeno do FOMO — “fear of missing out” —, que faz com que os indivíduos sintam medo de perder promoções-relâmpago, lançamentos exclusivos ou tendências digitais. Isso os leva a agir de forma imediatista, muitas vezes comprando por impulso ou se engajando em experiências que não estavam em seus planos originais.
Um exemplo prático pode ser observado no setor de streaming. Plataformas como Netflix, Disney e Spotify competem diariamente para manter a atenção dos usuários, oferecendo sugestões personalizadas, listas automáticas e notificações sobre novidades. O objetivo é impedir que o consumidor migre para a concorrência ou desligue o dispositivo. Da mesma forma, redes sociais como Instagram e TikTok ajustam constantemente seus algoritmos para oferecer conteúdos que prendam o usuário por mais tempo, transformando a rolagem infinita em um hábito quase automático.
As marcas que entendem a dinâmica da economia da atenção buscam se adaptar com conteúdos curtos, impactantes e autênticos. Mas a chave não está apenas em chamar atenção rapidamente: é preciso criar uma narrativa que mantenha relevância no longo prazo. Campanhas que unem storytelling, propósito social e interatividade tendem a gerar não apenas visualizações, mas vínculos emocionais. Marcas como Nike, por exemplo, investem em narrativas de superação que ultrapassam o simples ato de comprar um tênis, transformando o consumo em experiência identitária.
Por outro lado, essa disputa pela atenção gera também desafios éticos. Críticas apontam que a economia da atenção contribui para a ansiedade digital, para o aumento de distrações e até para a redução da capacidade de concentração das pessoas. Muitos consumidores relatam dificuldades em manter o foco em tarefas simples, já que seu cérebro foi condicionado a buscar recompensas rápidas e constantes. Assim, embora esse modelo seja lucrativo para as empresas, ele também impõe às marcas a responsabilidade de equilibrar inovação com bem-estar, oferecendo experiências que sejam atrativas, mas que não explorem de forma predatória a vulnerabilidade do público. Baixar video Instagram
Em síntese, a economia da atenção remodelou por completo a relação entre marcas e consumidores. O comportamento do público se tornou mais fragmentado, imediatista e emocional, respondendo a estímulos que vão muito além da necessidade racional de consumo. Nesse cenário, ganha quem consegue capturar a atenção em segundos, mas também quem sabe transformá-la em confiança, em experiência significativa e em fidelidade a longo prazo. A atenção é, hoje, o ativo mais valioso do mercado, e entender suas dinâmicas é essencial para qualquer estratégia que pretenda sobreviver na sociedade hiperconectada.




