Conveniência tecnológica e busca por independência transformam a relação da geração conectada com dinheiro e orçamento.
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Nascida entre 1995 e 2010, a
Geração Z cresceu em um cenário marcado por mudanças profundas no mercado de
trabalho, no acesso à tecnologia e no modo de consumir. De acordo com um
levantamento da Serasa, 55% dos jovens dessa faixa etária já são os principais
responsáveis por suas próprias finanças.
O dado aponta um comportamento de
independência precoce, ao mesmo tempo em que expõe desafios, como a falta de
acesso à educação financeira formal: apenas 10% afirmam ter recebido orientação
significativa em casa.
A pesquisa também mostra que o
salário é a principal fonte de renda para 5 em cada 10 jovens, enquanto as
contas básicas, como aluguel, alimentação e transporte, lideram a lista de
despesas de 69% dos entrevistados. O cenário indica que o cotidiano financeiro
da Geração Z ainda é marcado pelo esforço de equilibrar ganhos e custos.
Como a tecnologia molda a relação com o dinheiro
Um levantamento da consultoria
Ernst & Young mostra que mais de 70% da Geração Z já usa contas digitais
para pagar despesas, transferir valores e guardar pequenas quantias. O dado
ajuda a explicar a ascensão dos bancos digitais, que conquistaram espaço ao
oferecer soluções simples, intuitivas e, sobretudo, livres da burocracia que
afastava muitos jovens das instituições tradicionais.
A
proximidade com a internet e a presença constante dos dispositivos
móveis facilitam a adesão a aplicativos financeiros. Para essa geração, abrir
uma conta
digital é quase tão natural quanto criar um perfil em uma rede social. Recursos como visualização instantânea de saldo, categorização de
gastos e centralização de pagamentos possibilitam que esses jovens tenham mais
clareza sobre seu orçamento.
De acordo com Jadson Pessoa da
Silva, professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do
Maranhão (UFMA), esse comportamento está diretamente ligado ao contexto
econômico: “Eles têm interesse por
investimentos e novas tecnologias, mas também são mais vulneráveis a promessas
de lucro rápido”, afirma ele.
Controle financeiro e novas experiências
Para conquistar e manter esse
público, bancos digitais e fintechs apostam em maneiras de transformar o ato de
cuidar das finanças em uma experiência mais leve e interativa. Gamificação,
sistemas de cashback e personalização são algumas das estratégias mais
populares para engajar os jovens.
Invés de apenas consultar extratos,
eles podem acompanhar metas, organizar “caixinhas” de despesas e receber
recompensas por boas práticas financeiras. Essas funcionalidades realmente
podem contribuir para um planejamento mais saudável, desde que acompanhadas de
informação clara.
Jadson observa que a gamificação
deve vir acompanhada de simulações reais para evitar ilusões sobre o uso do
dinheiro. Já Leandro Vinícios Carvalho, professor da Universidade Federal da
Grande Dourados (UFGD), chama a atenção para o risco do imediatismo: “O fácil acesso a aplicativos e o ritmo
acelerado colaboram para uma relação mais volátil com o dinheiro. Autonomia é
importante, mas o planejamento precisa vir junto”.
Desafios da inclusão financeira
O acesso à tecnologia democratiza o
uso de ferramentas bancárias, mas não garante que os jovens estejam preparados
para lidar com armadilhas comuns, como endividamento em crédito fácil ou
investimentos de risco sem conhecimento adequado.
Jadson reforça que a orientação
financeira deve acompanhar a expansão dos serviços digitais: “Sem educação financeira, o jovem pode se
perder em meio às facilidades. É preciso aprender a usar os recursos de forma
consciente, entendendo juros, prazos e limites”, explica.




