Fonte: Izabelly Mendes. |
É uma contradição que dói: como é possível que justamente quem diz nos amar seja também quem mais nos machuca? Esse questionamento ecoa no coração de muitas pessoas que vivem ou viveram relacionamentos marcados por promessas de amor, mas também por dor, frustração e feridas emocionais. A explicação para esse fenômeno é complexa e envolve desde padrões emocionais inconscientes até idealizações equivocadas sobre o que é o amor.
O poder da intimidade
A primeira razão pela qual quem mais nos machuca costuma ser quem mais diz nos amar é simples e brutal: a intimidade dá acesso. Pessoas próximas sabem onde estão nossos pontos frágeis, nossos medos, nossas inseguranças. Quando há amor envolvido, existe uma abertura emocional profunda — e, por isso, a dor causada por quem amamos tem um peso infinitamente maior do que a de um desconhecido.
Não se trata apenas de palavras duras ou atitudes agressivas. Às vezes, o descaso, a frieza ou o silêncio vindo de quem amamos machuca mais do que ofensas vindas de qualquer outro. Isso acontece porque criamos expectativas, confiamos e depositamos parte da nossa identidade naquela relação. Quando isso é violado, o impacto é devastador.
Amor não é sinônimo de maturidade emocional
Muitas vezes, quem ama de verdade não sabe amar do jeito certo. Crescemos em uma sociedade que idealiza o amor, mas que pouco nos ensina sobre como lidar com nossas emoções, traumas e limitações. Assim, pessoas que dizem amar — e que talvez realmente amem — acabam se tornando fontes de dor por não saberem demonstrar afeto de forma saudável.
Há quem ame com ciúmes doentios, com controle, com manipulação emocional, com cobranças excessivas, ou mesmo com atitudes tóxicas disfarçadas de “cuidado”. Em muitos casos, isso reflete padrões herdados de relacionamentos anteriores, inclusive da infância, quando aprendemos a associar afeto com dor ou insegurança.
A repetição de padrões tóxicos
É comum que, sem perceber, repetimos nos relacionamentos aquilo que vivemos em casa, na infância. Se o modelo de amor que vimos foi disfuncional — baseado em culpa, medo, chantagens ou abandono — é possível que, inconscientemente, reproduzissem essas dinâmicas em nossas relações adultas.
Da mesma forma, muitas pessoas que se dizem “boas” e “amorosas” acreditam que estão fazendo o melhor, quando na verdade estão reproduzindo machucados antigos. O amor, quando não é acompanhado de autoconhecimento, pode se transformar em um campo fértil para a dor.
A idealização do amor romântico
Outro ponto importante é a ideia, muitas vezes romantizada, de que amar alguém significa aceitá-lo incondicionalmente, mesmo quando esse amor fere. Quantas vezes ouvimos frases como “quem ama perdoa tudo” ou “relacionamento é difícil mesmo”? Essas crenças normalizam comportamentos abusivos e perpetuam relações em que o amor é usado como justificativa para o sofrimento.
Amor não é desculpa para feridas constantes. Amar alguém não significa abrir mão do respeito, da dignidade e da própria saúde emocional. Mas, infelizmente, muitas pessoas confundem intensidade com amor verdadeiro e acabam aceitando migalhas emocionais em nome de um sentimento que, no fundo, está mais ligado à dependência do que ao amor saudável.
Quando o amor vira poder
Em algumas situações, o “eu te amo” vira uma ferramenta de poder. A pessoa diz amar, mas usa esse amor como arma para manipular, controlar e manter o outro preso em uma relação desigual. Esse tipo de amor é mais sobre domínio do que sobre afeto genuíno.
Quem diz te amar, mas constantemente te diminui, te silencia ou te faz se sentir insuficiente, está usando o amor como fachada para manter o controle. E o mais cruel é que, muitas vezes, quem está sendo machucado demora a perceber isso, porque o vínculo afetivo impede uma análise racional da situação.
Amor verdadeiro não machuca — quem ama de verdade, cuida
É preciso desconstruir a ideia de que o amor verdadeiro machuca. Quem ama de verdade pode errar, sim, mas se importa com o impacto que causa no outro. Busca reparar, aprende com os erros, evolui junto. Amor não é ausência de conflitos, mas é presença de respeito, empatia e crescimento mútuo.
Se alguém constantemente te machuca e diz que te ama, talvez o que esteja sendo oferecido não seja amor, mas uma forma distorcida de apego, controle ou carência. E, nesses casos, a melhor forma de se amar é se afastar do que te fere — por mais que doa.
Conclusão
Quem mais nos machuca costuma ser quem mais diz nos amar porque o amor nos deixa vulneráveis. Mas é justamente por isso que devemos escolher com sabedoria quem deixamos entrar no nosso mundo interior. O amor verdadeiro não anula, não machuca com frequência, não gera culpa nem medo. Ele constrói, apoia e fortalece. garota com local
Se alguém diz te amar, mas te faz sentir pequeno, triste ou constantemente inseguro, é hora de refletir: esse amor te nutre ou te destrói? A resposta pode doer, mas também pode libertar. Afinal, amor que machuca demais precisa ser questionado — e, se necessário, deixado para trás.