Chefs autorais, sabores afetivos e propostas ousadas, que unem tradição, inovação e experiências sensoriais, conquistam espaço no cenário nacional
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| Créditos: AnnaStills / iStock |
Brasília, onde o céu parece não ter fim e as linhas de Niemeyer desenham o cotidiano, também desperta os sentidos à mesa. Nos cardápios, nas conversas e até nas redes sociais, a comida virou assunto sério e apaixonado.
Em cada cantinho da capital, surgem bares, bistrôs e cozinhas autorais que não só alimentam, mas também narram histórias de origem, de retorno, de recomeço. Brasília não está somente comendo melhor, mas se reconhecendo nos próprios sabores.
Tradição reinventada: Severino Xavier e o legado do La Chaumière
Nascido no pequeno município de São Joaquim do Monte, em Pernambuco, Severino Xavier chegou em Brasília aos 16 anos, ainda sem imaginar que se tornaria um dos nomes mais respeitados da gastronomia local.
Começou lavando pratos e servindo mesas no modesto “Nosso Bar”, restaurante administrado por um casal francês. Observador e dedicado, aprendeu com o tempo a técnica por trás da cozinha clássica europeia – habilidade que refinaria mais tarde na França, durante uma temporada de estudos, em 1970.
Ao voltar ao Brasil, abriu o La Chaumière, restaurante símbolo da alta gastronomia em Brasília e ponto de encontro de ministros, artistas e embaixadores. Entre as criações de Severino, está o filé ao molho roquefort – apelidado por clientes fiéis de “Sevê-Rã” –, um clássico conhecido tanto pelo sabor marcante quanto pela apresentação cuidadosa.
Hoje, aos 80 anos, acompanha de perto a renovação do restaurante que construiu – agora em processo de modernização – com a tranquilidade de quem sabe que tradição e inovação podem, sim, compartilhar a mesma mesa.
Novas casas, novas ideias
Recém-inaugurado, o Monet Speakeasy aposta em uma proposta que vai além do simples ato de comer e beber: oferece uma experiência estética completa, inspirada na obra do pintor impressionista Claude Monet.
Localizado no Dakota Shopping, o espaço se destaca pela ambientação envolvente, com luz suave, quadros em referência ao artista francês e um espaço que remete aos bares secretos da década de 1920.
Na cozinha, a chef Érica Beltrame comanda o cardápio com pratos elaborados e autorais, como as croquetas de rabada, servidas com aiolí de espinafre, e o delicado risoto de alho-poró com filé tornedor, que equilibra sabor e sofisticação.
No bar, a mixologista Thaís Lima assina uma carta de coquetéis que dialoga com os sentidos: destaque para o “flores e frutas”, combinação de gin, hibisco, rosas e frutas vermelhas, e o ousado “pot de pêches”, que leva bourbon, pêssego maçaricado e notas defumadas.
Mais uma sugestão, agora com uma vista privilegiada para o pôr do sol mais bonito de Brasília, o projeto Som no B combina pratos sofisticados, coquetelaria autoral e trilha sonora ao vivo em um momento ao ar livre.
Sob a curadoria do chef Lênin Palhano, o menu privilegia ingredientes brasileiros em combinações criativas e bem executadas – caso do sanduba de costela no pão de abóbora, da burrata com compota de limão siciliano e do tradicional steak tartar, reinterpretado com leveza e precisão.
O evento segue até setembro, sempre às quintas, sextas e sábados, das 17h45 às 20h45, no B Hotel Brasília (Setor Hoteleiro Norte, Quadra 5, Bloco J).
De fora, com amor: chefs que escolheram Brasília
Brasília também trouxe talentos de outras regiões e países, como Marco Espinoza (Peru), Helena Rosa (Minas Gerais) e Daniel de Lara Santos (São Paulo). Com propostas singulares, eles escolheram Brasília como lar criativo – e acrescentaram novos temperos à cena local.
Com tantas referências e oportunidades, cresce também o número de jovens interessados em seguir carreira na área. Em 2023, a indústria de alimentos gerou 1,97 milhão de empregos formais e diretos, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos.[1]
O movimento é visível em cursos profissionalizantes e na procura por uma faculdade de gastronomia, porta de entrada para quem deseja transformar talento em profissão. Além da prática em cozinhas-escola e laboratórios, os cursos oferecem uma imersão cultural e técnicas que refletem diretamente na qualidade da produção local.
