Vida e Obra de Vander Lee é celebrada no novo documentário de Fred Le Blue do Artetetura

 




Filme:

"A Natureza de Vander Lee Catarina"

(BRA, 2024, 65')

Link: https://youtu.be/jXUsoPqxymQ

Diretor: Fred Le Blue

Produção: Artetetura e Humanismo 


Uma caixinha de música ecoa do alto de uma montanha mineira, nos convidando a escalar até o topo para mirrar, por um ponto de vista privilegiado, a humanidade. Seria isso o que nos proporciona o conjunto da obra e o legado de vida vanderleeano.

O belo-horizontino Vanderli Catarina, cujo nome artístico inicial era Vanderli Natureza, mas que ficou conhecido para o grande público como Vander Lee, é um ícone interrompido da história da música romântica e popular brasileira, que teve como primeiros incentivadores de seu talento, figuras lendárias da MPB, como Maurício Tizumba e Elza Soares. Tímido, porém destemido, trilhou uma caminhada de sucesso e musicalidade, indo dos bares da vida aos palcos do mainstream da música, só comparável ao Clube da Esquina em Minas, apesar de ser um cantautor quase solitário -, ao contrário daquele movimento musical dos anos 60 e 70 que o sucedeu e o influenciou, caracterizado pelas incontáveis análises combinatórias de parcerias musicais e carreiras orbitantes lançadas em torno de Milton Nascimento. 

De "natureza" introspectiva e também andrógena como a de Bituca, que bebeu na fonte musical do histórico bairro de Santa Tereza, Lee é oriundo das bordas marginalizadas da cidade de Belo Horizonte (Bairro Olhos d´Água), tendo realizado, por isso, uma façanha de construir uma carreira musical, a partir de uma infância de provações e privações. Antes de se tornar músico profissional, trabalhando como ambulante, gandula e soldado, a alma de Vander foi tatuada com as marcas de uma vida de invisibilidade social, que ameaçava até mesmo o direito a uma vida biológica segura, o que dirá a cultural e espiritual. 

Contrariando as estatísticas de pobres, pretos e periféricos, Vander Lee Natureza Catarina conseguiu vencer quase tudo, até mesmo sua timidez, pelo menos, nos palcos, desenvolvendo um carisma singular por meio de uma horizontalidade despojada na relação entre palco e plateia. Como estratégia psíquica musicoterapêutica para lidar com a dor e o caos mental e coletivo, sua música universal e atemporal funciona ainda hoje como um bálsamo de cura dos traumas causados pela sociabilização urbana, tendo transformado o preconceito de classe e raça da sociedade em potência criativa, capaz de traduzir em palavras os afetos, desafetos e afetações humanas. 

A sua canção é um inquebrantável espelho compassivo e comunicativo que reflete as adversidades da vida cotidiana e amorosa, mas sempre apontando para uma perspectiva de esperança utópica com urbanidade e clarividência. Talvez, por isso, que ele virou estrela muito cedo, mas segue iluminado e iluminando, sem preciosismos de apegos e aversões estéticas, através de uma obra sincrética e eclética, a espécie humana dos românticos ameaçados de extinção, por meio de campo de força vibracional pró-reencantamento do mundo.

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